Resenha do site #Oscar2015 – Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)

birdmanposterConvenhamos, a esta altura muito pouco se sabe a respeito de Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) a não ser o fato dele ser um dos campeões de indicação ao Oscar deste ano, concorrendo em nove categorias. E existe um motivo muito simples para isso: é difícil descrever Birdman.

De forma simples (e simplista), o filme relata a loucura de um homem. Riggan (Michael Keaton) foi um astro do cinema na década de 90. Depois de 3 filmes interpretando o super-herói Birdman, ele se recusou a fazer o quarto filme e hoje tenta ser reconhecido como ator de respeito com uma adaptação literária para o teatro que escreveu, dirige e estrela. Não é difícil perceber a loucura de Riggan, assim como não é imperceptível que ela resvala para todos à sua volta: a filha Sam (Emma Stone), a amiga Lesley (Naomi Wats), o empresário-advogado-amigo Jake (Zach Galifianakis) e, o que será o maior antagonista de Riggan, Mike (Edward Norton).

Acenando para Hitchock com um filme que parece ter sido rodado em uma única tomada, onde não vemos cortes em cenas e onde a câmera passeia por grades de janelas até entrar nos cômodos, o diretor Alejandro González Iñárritu nos leva pelos bastidores daquele teatro onde a peça está sendo ensaiada. Passamos por corredores, camarins, palco, telhado e bilheteria até sermos atirados na rua, em plena Broadway e nos sentirmos tão desamparados quanto Riggan. Sua câmera ansiosa dá closes praticamente indecentes no rosto de seus atores mostrando detalhes quase obscenos de pele, cabelos, pelos. Michael Keaton se despe (literalmente) de qualquer vaidade e entrega a melhor performance de sua carreira num desbaratinado redemoinho rumo à loucura. Edward Norton provoca e irrita a todos com seu jeito egocêntrico e talvez apresente o alter-ego perfeito para o personagem de Keaton enquanto bate de frente com ele. Emma Stone e Naomi Wats são nada menos que excepcionais em seus papeis. Galiafianakis… bom, um diretor que conseguiu transformá-lo em um (bom) ator de verdade, a ponto de inicialmente estar irreconhecível, já merece o repeito do mundo.

Este é outro ponto importante de Birdman: sem se valer de truques de maquiagem, figurino ou efeitos especiais, o filme transforma seus atores em pessoas completamente diferentes das que estamos acostumadas a ver. Stone, Keaton e Galiafianakis tornam-se outras pessoas “apenas” com seu talento e pelas mãos de Iñárritu. E isso não é exagero. Dizer que o diretor brinca com seu público o tempo todo também não é exagero: sua câmera passeia em frente a espelhos sem ser vista o tempo todo, seus cortes de cena são invisíveis (mais sutis que em Festim Diabólico, onde Hitchcock forjou esta arte) e suas andanças pelos corredores do teatro chegam a ser claustrofóbicas.

Talvez a pessoa mais corajosa de todo o projeto seja Michael Keaton. É impossível não comparar seu Riggan com o ator real: Riggan teve o auge de sua carreira em 1991 com o primeiro Birdman no cinema e depois do terceiro filme caiu no ostracismo do público e tenta, quase 25 anos depois se reerguer e provar a todos que é um bom ator. Notou a semelhança? Keaton teve o auge de sua carreira em 1989 com Batman, dirigido por Tim Burton. Após Beetlejuice – Os Fantasmas Se Divertem, de 1988 e dois filmes do Batman, Keaton nunca mais fez algo relevante no cinema. Ou na TV. Com Birdman, o ator tenta (e consegue) mostrar ao mundo que é muito mais que uma armadura de borracha ou uma maquiagem fantasmagórica.

Não à toa, Birdman é um dos filmes mais originais do cinema nas últimas décadas. E, importante dizer, merece todo o reconhecimento que está tendo. Diretor de obras poderosas como Amores Brutos, 21 Gramas e Biutiful, Iñárritu consegue se superar e criar um filme ainda mais impactante, ainda que abrindo mão de toda a violência dos anteriores. A forma como o filme incorpora seu entorno, seja nas pessoas na rua ou no baterista na calçada (a trilha sonora é um espetáculo à parte), a edição, a própria história em si, o antagonismo dos protagonistas… tudo contribui para que o espectador saia do cinema de queixo caído diante da maestria daquela obra, tendo certeza que testemunhou não apenas um bom filme, mas uma verdadeira aula de cinema.

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