No mesmo dia em que um histórico beijo entre dois homens que foi exibido numa novela das 18h da maior emissora do país completa um ano, o humorista e roteirista Paulo Gustavo anuncia que o filme Minha Mãe É Uma Peça 3 terá um casamento gay, mas não terá beijo entre dois homens porque ele “não sentiu a necessidade de colocar o beijo e expor publicamente nenhuma opinião pessoal na cara do público”.
Vejam bem: Paulo Gustavo é gay, casado com outro homem, acabou de adotar dois filhos e protagoniza o filme vestido de mulher. E, ainda assim, acha que um beijo entre dois homens deve ser omitido para não expor publicamente nenhuma opinião pessoal na cara do público.
Aparentemente para Paulo, o relacionamento entre dois homens e, portanto, o seu, é apenas uma opinião pessoal.
Depois que o assunto polemizou, o próprio ator se pronunciou, dizendo que escreveu o filme querendo falar de CASAMENTO GAY (e as letras maiúsculas foram dele mesmo). Então, voltando à concepção dele, um CASAMENTO GAY não deve ter beijo, já que o que ele escreveu não teve e nem o que ele protagonizou, quando casou com seu marido.
O ator parece ser do grupo dos gays hipócritas brasileiros (de mãos dadas com Carlinhos Maia), que se curva diante do conservadorismo pra não perder dinheiro. Ele precisa ser lembrado que só conseguiu casar, adotar filhos e mostrar sua sexualidade tão abertamente porque muitos outros gays na história tiveram e ainda têm a coragem que ele não tem. Nunca é demais lembrar, também, que no primeiro filme Paulo não teve medo de chocar a sociedade ao colocar o filho gay chegando em casa de madrugada com uma prostituta para convencer a si mesmo que era hétero.
Paulo parece muito preocupado em não chocar a sociedade. O irônico é que ele fez sua fama com esta sociedade em cima de trabalhos em que se veste de mulher e nunca escondeu sua orientação sexual. Esta mesma sociedade que topa rir do gay, do gordo, do negro, mas não tolera vê-los em pé de igualdade. Que elege um presidente homofóbico, machista, misógeno e diz que “até tem amigo gay”. Paulo Gustavo deve sentir orgulho de ser o “amigo gay engraçado” mas que nunca poderá aparecer com namorado.
Enquanto isso, um youtuber, hetero, se chocando com a atitude do prefeito homofóbico do Rio de Janeiro de censura na Bienal, comprou 14 mil livros LGBT e distribuiu de graça. É como estão dizendo: tem hetero fazendo muito mais pela comunidade LGBT enquanto gays prestam desserviço.
Voltamos aos anos 90 onde estava ok rir do gay na TV e no cinema mas ele jamais poderia ter sexualidade?
Felizmente não. O beijo entre pessoas do mesmo gênero está se tornando comum na TV. Protagonizado por homens e mulheres nos mais diversos horários. E, sim, os viados e as sapatões estão nas novelas. Porque também estão em todas as famílias, e as novelas sempre foram um retrato da realidade. Embora para a Malhação Toda Forma de Amar ainda pareça demais ou talvez não uma forma de amor válida, como Paulo Gustavo parece pensar. Pelo menos ele não explodiu o casal gay junto com um shopping né?