Resenha do Blog: Rock of Ages

Em 2005 ainda não existia Glee. Hoje já existe e está no quarto ano. Mas não era pra falar de Rock of Ages? Então…
Com boa parte dos rocks farofa dos anos 80 (aqueles que todos adoramos mas temos vergonha de admitir) incluídos na trilha do seriado adolescente, é difícil não assistir Rock of Ages com Glee na cabeça, ainda mais com um casal adolescente como protagonista. Mas o musical que dá origem ao filme estreou na Broadway em julho de 2005, ou seja, antes do fenômeno teen-musical estourar na TV. Dito isto, podemos partir pra falar do filme em si.
Rock of Ages, o filme, conta a história de Sherrie Christian: jovem do interior dos Estados Unidos que quer ser cantora e vai para Hollywood em busca de seus sonhos. Lá, acaba virando garçonete na boate mais badalada, se apaixonando pelo garoto bonitinho que também quer ser cantor e vai sofrer as agruras e delicias desses amores. Nada muito original, correto? Você já viu isso em Show Bar, Burlesque e mais um sem-número de filmes bons ou ruins. Entre um beijinho e outro, um protesto de religiosos e outro, Sherrie e cia soltam a voz em sucessos conhecidos como Don’t Stop Believin’, More Than Words e Anyway You Want It (todas já gravadas em Glee).
Mas o filme sofre de três grandes problemas. O primeiro, e talvez o maior deles, seja se equilibrar o tempo todo entre o trash e o sério. A coisa começa séria, daí descamba pra palhaçada, daí volta, daí descamba de novo, sem abraçar nenhuma das duas opções. Momentos incrivelmente inspirados (como o numero de Wanted Dead or Alive, sem duvida os melhores minutos do filme) se intercalam com outros constrangedoramente hilários (vide Hit Me With Your Best Shot, pobre Catherine Zeta-Jones, deveria mandar prender o coreógrafo). O segundo defeito pode ser o excesso de referências sem na verdade se referenciar a nada. Se parece com mil filmes musicais, com seriado, com videoclipes e acaba não se parecendo com nada. O último problema, grave também, é mirar no público errado. Quem gosta destas musicas de verdade? A geração que hoje tem cerca de 35 anos.  Dificilmente se identificará com um romance-adolescente-pós high-school.
Porém nem só de defeitos vive Rock Of Ages. Ao escalar Tom Cruise como o rock star em decadência Stacee Jaxx ele dá seu primeiro salto. O personagem ganha vida surreal nas mãos de um ator em geral mediano (que em Trovão Tropical já tinha mostrado toda sua habilidade em tipos bizarros) e o filme é de Staciee Jaxx em toda sua excentricidade e loucura. Outro trunfo é Paul Giamatti. Ator nunca menos que excelente, ele encarna o empresário do astro, ganancioso como todo empresário de filme deve ser, Giamatti entrega o mais real (ainda que caricato) dos personagens em cena. Dos outros nomes conhecidos, Alec Baldwin e Catherine Zeta-Jones se saem de forma eficiente, nada além disso.
O casal de protagonistas é desconhecido, ao menos do grande público. Julianne Hough é cantora country, ganhadora duas vezes do programa Dancin With The Stars e no cinema já participou do remake divertidinho de Footloose e do pavoroso Burlesque. Seu par romântico é Drew Boley, interpretado (digamos) por Diego Boneta. Ator mexicano conhecido por suas participações na nova versão de Barrados no Baile (90210) e da novela Rebelde, da rede Televisa. Aqui, ele é um bartender que sonha em ser cantor de rock e ostenta um estapafúrdio batom cor de rosa durante todo o filme, além de se mostrar um ator de proporções catastroficamente ruins. Os dois não são capazes de sustentar a trama fraca e deixam o filme nas mãos de quem entende do assunto: Cruise e Giamatti.
Numero musical vem, beijo vai, Mary J. Blidge entra em cena e sai sem muita importância e somos brindados com duas das mais constrangedoras cenas da história do cinema: Tom Cruise e Malin Akerman (um daqueles rostos que você conhece mas não vai lembrar de onde) protagonizam o numero musical de I Want To Know What Love Is com direito a língua na orelha e versos para o derriére da moça. Depois Alec Baldwin e Russel Brand nos presenteiam com uma versão de I Can’t Fight This Feeling que fará com que jamais consigamos ouvir a musica da mesma forma novamente.
No final fica o gosto de que o filme poderia ter sido bem melhor, que o potencial mostrado em Wanted Dead or Alive foi desperdiçado em prol de um romance bobinho. Mas diverte. Passa rápido, cantamos junto a maioria das musicas e até mesmo nos empolgamos em alguns dos números musicais. Até mesmo em Juke Box Hero, numa cena talvez intencionalmente brega na loja de discos. Mas saímos da sala do cinema com Paradise City na cabeça e um sentimento de que poderia ter sido bem melhor. Só não há como torcer pelo casal protagonista. Torcemos mais pelo empresário inescrupuloso ou pelo dono de bar ogro. Até mesmo pelo misto de Axel Rose com Jon Bon Jovi entregue por Tom Cruise. Mas nunca por Sherrie e Drew.

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