Foi divulgado na manhã desta quinta-feira o candidato brasileiro a concorrer a uma vaga na lista dos indicados ao Oscar de filme estrangeiro em 2013. O filme O Palhaço, dirigido por Selton Mello foi o escolhido dentre os 15 candidatos, que ainda incluíam títulos como 2 Coelhos, Xingu, Corações Sujos, Heleno ou filmes menos conhecidos como Elvis & Madona ou Paraísos Artificiais. A escolha representa uma mudança na linha dos filmes costumeiramente indicados que sempre retrataram momentos políticos ou situações econômicas consideradas muito características do Brasil. A lista dos concorrentes ao prêmio será anunciada dia 10 de janeiro e a premiação acontecerá dia 24 de fevereiro e a última indicação do Brasil foi em 1999 com o filme Central do Brasil.
Depois do que assisti de Feliz Natal (os 20 minutos iniciais me bastaram), confesso que estava com um pé atrás com relação a O Palhaço, segundo longa de Selton Mello como diretor. Como ator, o rapaz é eficiente, já fez personagens memoráveis como o Chicó de O Auto da Compadecida, Diogo Álvares deCaramuru e até dublou um liquidificador em Reflexões de um Liquidificador. Na TV seu personagem em Os Aspones era incrível. Fez grandes porcarias também, é verdade, como o protagonista do péssimo Meu Nome Não é Jhonny.
Mas sua estreia na direção, aclamada pela crítica, foi em 2008 com o drama familiar Feliz Natal. Após alguns minutos de diálogos forçados, texto ruim e interpretações piores ainda eu desisti do filme, mas houve quem gostasse. Por isso não levava muita fé neste segundo filme.
Quando os críticos começaram a dizer que O Palhaço não tinha nada a ver com Feliz Natal e sequer pareciam filmes do mesmo diretor comecei a me interessar. Quando disseram que o filme era leve e sem a amargura do anterior, me interessei mais ainda. Não sou grande fã de circo ou de palhaços, é verdade, mas a história me pareceu bonita e tocante. E é.
Benjamin é o palhaço Pangaré, que se apresenta no circo do pai (que também é palhaço). Aparentemente ninguém nunca lhe perguntou (nem ele mesmo) se era isso que queria para sua vida, e Benjamin segue fazendo as pessoas rirem. ‘Mas e quem é que vai me fazer rir?’, pergunta ele em determinado ponto da história. O circo é pequeno, daqueles que viajam em cidades do interior. Não tem animais, se firma nas apresentações dos artistas: malabaristas, musicos, dançarinas, palhaços. Com média de 50 pagantes por apresentação, vão se virando como podem.
Com uma direção de arte impecável, imagens lindíssimas, e interpretações sim, desta vez espetaculares, em especial de Paulo José (o pai-palhaço) o filme chega a emocionar no final. Apesar de uma leve falta de ritmo, o clima de lirismo e poesia se mantém. Participações especiais tornam a coisa toda ainda mais gostosa: Moacyr Franco (em seu primeiro papel no cinema em 75 anos), Jackson Antunes, Jorge Loredo (o Zé Bonitinho) e Tonico Pereira. Como ator-diretor, Selton se mostra seguro nos dois papéis. Seu personagem é carismático apesar de triste, uma tristeza que se confunde com alegria às vezes como se por baixo da maquiagem de palhaço ele escondesse um homem amargurado, mesmo estando sem maquiagem e tentando manter essa amargura sempre escondida.
Se no início de Feliz Natal um garoto dava sua fala em tom robótico e sem a menor qualidade interpretativa, aqui o diretor se valeu disso de forma genial. Se as crianças não conseguirão dar um texto de forma natural, que o façam de forma artificial de propósito, declamando poesias ou dando um texto no picadeiro intencionalmente falso. E assim consegue que até as crianças em cena sejam eficientes, mesmo quando falam.
Um filme belo, em todos os sentidos. Tocante, lírico, poético, daqueles que comprovam que é possível fazer cinema no Brasil sem mensagens políticas (invariavelmente sobre a ditadura), sem violência que ‘retrata a realidade’ e, acho que foi a primeira vez que vi isso, sem um palavrão sequer.

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