Muito se falou sobre o 23º filme de James Bond no ano de seu quinquagésimo aniversário. Disseram até ser o melhor filme da série, o filme que reinventaria o espião no cinema.
Olha, devemos ser bem sinceros, o hype em cima do filme foi muito maior do que o filme em si. Com um roteiro relativamente simples a história traz sim algumas mudanças definitivas na saga e alguns easter eggs para os fãs, mas está longe de poder ser chamado de o melhor filme da série. Mostrando certo cansaço (quem já viu o filme entenderá o que eu digo), Bond está um pouco mais comportado que de costume, andando um pouco mais dentro das regras. Mas ao mesmo tempo (e talvez justamente com isso) tenta se renovar com mudanças que abraçam o passado e outras que tiram sarro deste mesmo passado.
Existem grandes adições ao time de 007. Q (Ben Winshaw, outrora o assassino do belíssimo Perfume) é um jovem no qual Bond não confia de imediato, justamente pela pouca idade do rapaz, mas que com uma frase desbanca toda a pompa do espião. O filme todo é um grande embate entre passado e futuro, tradicionalismo e inovação, força bruta versus tecnologia avançada. Nada que se compare a um Missão Impossível: Protocolo Fantasma (ainda bem) pois seria descaracterizar demais o personagem coloca-lo para repetir os malabarismos de Tom Cruise…
Se tem algo que Christopher Nolan nos ensinou com a nova trilogia de Batman, é que vilões megalomaníacos são caricatos, pouco críveis e irreais. Operação Skyfall só corrobora com esta teoria. Mesmo Javier Barden estando (e está mesmo) ótimo no papel de Silva, em momento algum ele deixa de ser caricato com direito a risadas maléficas e biquinhos em seu plano que poderia ser executado de forma bem simples mas apela para a megalomania. Um objetivo que poderia ser levado a cabo em cinco minutos se estende por duas horas. Parte da culpa disso pode ser do diretor. Com filmes pretensiosos como Beleza Americana e os ótimos Estrada Para Perdição e Foi Apenas um Sonho no currículo, Sam Mendes pode ter carregado um pouco demais na mão ao dramatizar o personagem e tentar criar um mártir oscarizável.
Claro que Skyfall não é de todo ruim. E está longe de ser um filme ruim na verdade. Judi Dench impõe o respeito de costume e Ralph Fiennes como Gareth Mallory é o grande trunfo do filme. A sequência de abertura é, como de praxe, maravilhosa ao som da esperadíssima musica tema de Adele. Algumas cenas do filme são de uma beleza plástica deslumbrante (como a luta na sala escura com as luzes de neon e a entrada no cassino em Xangai). Talvez a ideia seja mesmo reinventar a série, recomeçar com reverências ao passado mas abraçando as inovações do futuro. No fim das contas é um ótimo filme de ação que infelizmente deixa a desejar em alguns aspectos mas ainda é muito melhor que muita coisa feita atualmente. É 007 afinal. Um pouco mais dramático, mas não deixa de ser 007.
PS: depois que o filme acabou me veio á mente uma cena do desenho A Nova Onda do Imperador. Nela, a vilã planeja se livrar do imperador: “Já sei! Vou transformá-lo numa pulga! Daí ponho a pulga dentro de uma caixa, ponho a caixa dentro de outra caixa e depois mando pelo correio para mim mesma. E quando ela chegar… BAM!! Eu esmago a pulga com uma marreta! Ou… posso simplesmente matá-lo…”

Pode parecer sacrilégio, mas nunca fui muito fã de James Bond. É muito coisa de homenzinho. Desse eu gostei, da mesma forma que dos outros. Pra mim, a melhor cena foi a do vilão contando a história dele e tirando a dentadura.