O maior medo atualmente dos cristãos que estão na bancada evangélica é no sentido de proteger a família. Mas que família é essa que eles tanto falam? Será a família do pai hétero que possui uma amante? A família do pai hétero que é alcoólico e que agride a esposa todos os dias? A família da mãe solteira hétero que deixou a responsabilidade da criação do filho para a avó fazer?
O que estamos percebendo hoje é que a família está sim em apuros, mas não é por conta da homossexualidade, mas porque os próprios defensores viraram as costas para os verdadeiros problemas que acometem as famílias hoje.
Poderia citar alguns exemplos de causas urgentes que deveriam ter uma atenção dessas pessoas que estão todas focadas contra os homossexuais se esquecendo dos reais problemas, e o que escreverei aqui são todas causas reais: violência doméstica; estupro de crianças pelo próprio pai; a iniciação sexual precoce de crianças que, por exemplo, acidentalmente assistem os pais fazerem sexo porque esses esqueceram de fechar a porta do quarto; negligência dos pais que, pela falta de tempo ou porque precisam trabalhar, deixam os filhos em casa sozinhos e/ou nas escolas; a deficiência na educação dessas crianças que são deixadas a cargo de professores/creches/babás que não deveriam ter essa obrigação; entre outras infinidades de problemas que são muito mais urgentes e que são essenciais para a formação de um adulto íntegro, educado e preparado para viver em sociedade.
Na falta de argumentação diante os fatos, é comum ver que essas pessoas apelam para o fato natural do que a sociedade hoje considera “normal”. Como vivemos em um planeta com inúmeras espécies de animais, é comum vermos notícias e documentários sobre animais que mantém relações homossexuais, e pensando em Reino Animal, isso não pode ser influenciado pela espécie humana e podemos dizer com provas científicas que isso é “naturalmente normal”, até porque nenhum animal manifestou contra o ato e mais uma vez vemos que o preconceito á algo exclusivo dos humanos e sem fundamento científico algum.
Mas o senso-comum vai além, e é jogado na mesa o fato de que, para perpetuar a espécie, somente se reproduz a partir do macho e fêmea. Inocência e falta de conhecimento de quem pensa dessa maneira, porque sabemos bem que na ciência existem espécies que fazem reprodução assexuada, por meiose, clonagem, etc. E se pensarmos na evolução (deixando de lado o criacionismo), a espécie humana só é o que é hoje porque existiu reprodução assexuada da criatura mais simples, pra depois ir evoluindo até chegar onde estamos, em milhões de anos de evolução. Claro que, no caso dos humanos, é necessário sim que exista os gametas do macho e da fêmea, mas se fôssemos pensar que só pode existir vida através do “natural”, fertilizações in vitro, que é a saída para pessoas que foram negadas “naturalmente” de terem filhos, seria uma heresia a não muito tempo atrás.
Ao falar de religião, se Jesus para os evangélicos é Deus e o que ele fez em sua jornada é bem citada na bíblia, para quem a lê, claro, é visível que ele não era preconceituoso e muito menos intolerante. Algumas religiões consideram mais o novo testamento por ter sido a fase em que Jesus esteve na terra, mas para fortalecer seus comentários preconceituosos, citam livros do antigo testamento, o que acaba sendo uma incoerência da parte do que esses cristãos acreditam. Se eles seguem o que Jesus disse, que Jesus é esse que é tão intolerante mas que ao mesmo tempo perdoou os pecados da humanidade? Esse Jesus que os cristãos estão seguindo não é o Jesus bíblico. É um Jesus inventado para proteger sua própria intolerância, ignorância e medo.
Voltando a causa inicial, percebemos que a intolerância, o preconceito e a negligência dessas pessoas que estão hoje nos representando na política consegue ser o maior vilão da família, pois estes viram as costas para os reais problemas que a sociedade enfrenta, e vemos que as pessoas hoje que querem proteger e formar as famílias, são aquelas que são negadas de terem esse direito. Os homossexuais, que buscam ter seu reconhecimento, são aqueles que mais querem tirar crianças dos orfanatos que estão anos institucionalizadas, para dar amor e carinho a aqueles que também foram negados de terem uma família, mesmo tendo saído de uma família “normal”, “natural” e heterossexual. Estes são os reais defensores da família, porque possuem inúmeros exemplos do que não fazer com seus filhos, exemplos esses que heterossexuais deixaram por todos os anos em que a humanidade está presente no mundo. Não se deve culpar os homossexuais pela incompetência dos heterossexuais em criarem seus filhos, porque não justifica dizer que estas crianças irão se tornar o mesmo, sendo que os pais dos atuais homossexuais são todos em sua maioria, heterossexuais.
Então vemos que nossos governantes estão interessados em causas pessoais, situações recalcadas que causam medo neles mesmos, fruto de uma incompetência geral hétero-normativa que nada tem a ver com a homossexualidade. Os reais problemas são outros e que deveriam ser observados, mas não são, onde nos pegamos fazendo vista grossa para o real problema ou simplesmente, negligenciando uma atitude que poderia mudar a situação da família atualmente. Se continuarmos a pensar dessa forma, negar o direito dos homossexuais não vai resolver os problemas urgentes que acometem as famílias e aí sim, veremos a desintegração das relações familiares e a única forma disso não acontecer é reconhecer que existem outras configurações de família para fortalecer o que já está a muito tempo, agonizando.


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