O Grande Gatsby – primeiras impressões

O site IGN, especializado em cinema, TV, tecnologia e games, trouxe ontem uma das primeiras resenhas sobre a estreia de O Grande Gatsby. Desnecessário explicar, mas Gatsby é o novo e esperado filme do diretor Baz Luhrmann (o mesmo de Romeu + Julieta, Austrália e Moulin Rouge).
Retomando suas características mais marcantes, abandonadas no fracassado Austrália, Luhrmann ao que parece entrega novamente uma obra deslumbrante visualmente, agora anabolizada pelo 3D.
Abaixo traduzo alguns pontos da resenha de Roth Corneth (vou me ater mais às partes que falam do filme em si):

O Grande Gatsby de Baz Luhrmann é essencialmente tudo o que se esperaria que O Grande Gatsby de Baz Luhrmann fosse: rico em espetáculo e emoções, luxuosamente belo, ensopado de brilho e cores saturadas e recheado de personagens esperando o inatingível: seja o amor, a versão idealizada de suas vidas, ou simplesmente sair da linha de pobreza em que nasceram. No caso do próprio Gatsby, tudo isso junto.


O filme em si é tão maravilhoso quanto o elenco presente em cena. Em certos momentos é como se pinturas ganhassem vida, um retrato de um momento impossível perdido no tempo. A beleza surrealista reflete a ideia de que o sonho da década de 1920 nunca existiu, e que a ilusão de sua grandeza só serve para mascarar todo o vazio real. Câmeras geradas por computador e a edição frenética nos dão a sensação da crueza da década. As imagens, embora nos deixem as vezes zonzos, colocam o espectador junto e no mesmo ponto de vista dos personagens: já que estes são pessoas incapazes de acreditar que sua ambição não está somente clara, mas que está sendo recompensada. Distrações estão por todos os lados e – conexão lógica – as noções de moral estão em declínio.

O 3D pode parecer as vezes exagerado, mas não se sobressai ao filme e em certos momentos não apenas apóia a estética, mas é necessário para criar uma sensação genuína de tanto imersão quanto de movimento. Nossos sentidos são sobrecarregados e inundados com cor, movimento, som, musica e texto do material original. Tudo acontece rapidamente e nos deixa deslumbrados. Assim como o visual do filme, os personagens também são levados ao extremo: eles não amam de maneira comum, eles precisam de amor com angústia desesperadora, para preencher algum tipo de vazio.


Ainda assim seu sofrimento nunca tem fim. Não somos capazes de nos conectar com estes personagens o bastante pra torcer por eles. E suas esperanças e desejos são por demais egoístas ou ilusórias para lutar. Essa sensação de falta de conexão com o público é uma das principais críticas ao filme, ou pode ser encarada como sua força maior. Já que Luhrmann captura perfeitamente a natureza rasa destas pessoas e de suas vidas. É purificadoramente satisfatório ter seu coração despedaçado pelos atores principais de um filme, e Gatsby não nos oferece essa sensação. Mas ainda assim ela está lá.

As atuações neste filme são mais fortes e profundas que em qualquer dos filmes anteriores do diretor.  Eles são humanos, mas afetados o quanto necessário para retratar o que são: essencialmente um grupo de homens, mulheres e crianças focados em si mesmos que se perderam no próprio senso de direção. DiCaprio volta a trabalhar com o diretor depois de Romeu + Julieta (de 1996) e captura a brutalidade de Gatsby tão facilmente quanto sua doçura e seu otimismo infantil. Os personagens em geral são dramáticos, com certeza,  mas há neles também traços de humor, humanidade que fazem O Grande Gatsby não somente deglutível, mas divertido de se assistir.


A trilha sonora moderna faz muito mais do que “incluir” a audiência. Ela evidencia a natureza atemporal das lições do filme. A lenda da década de 1920 existia antes do charleston, e ainda existe hoje. E Jay-Z é em diversos ângulos o colaborador musical perfeito para Gatsby. Não só a trilha funciona como válvula propulsora para a história, mas a imagem do próprio artista é a metáfora contemporânea para tudo pelo qual Gatsby lutava: peito estufado, poses, rompantes de novos ricos e sem muita noção de seus excessos.

Este filme, como o próprio Gatsby, descreve visualmente os excessos americanos. E Gatsby, como os meios que o geraram, tem uma falsa e distorcida visão de si mesmo. Ele está preso em uma ofegante e adolescente visão do amor e da vida e constante e freneticamente buscando um final ilusório para si. Ainda assim, Gatsby, seja o personagem ou o filme, é atordoante, de uma beleza sedutora. Como o mítico sonho americano, o filme nos oferece a isca, nos convida a voltar, e se recusa a nos livrar do feitiço de sua ilusão, não importando o quão irreal ele seja. E o espectador, assim como o narrador, se vê dentro e fora, carregado pela exuberância desta experiência mesmo que se sentindo repelido por ela. Talvez, novamente e assim como o próprio Gatsby, Luhrmann esteja pedindo demais, e talvez a história, assim como fez com o livro, faça jus ao brilhantismo de de seu filme.

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