Um Golpe Perfeito é um filme deliciosamente engraçado e tolo. Simples e fácil de assistir, porém sofre de duas das grandes maldições do cinema: seu nome genérico e sua pequena relevância no mundo da sétima arte.
Seu nome original, Gambit, em tradução livre seria algo como esquema, ou a jogada de abertura numa partida de xadrez. Ok, nada muito esclarecedor também. Mas com uma infinidade de filmes no Brasil com nomes parecidos (Um Golpe de Mestre, Golpe de Gênio, O Grande Truque, O Grande Golpe, Um Crime Perfeito, Uma Jogada de Mestre, Um Plano Brilhante…. e por aí vai) é praticamente impossível diferenciar um do outro. Um título de filme que, basicamente, só diz que seu roteiro envolve um golpe. O resto vai da imaginação e vontade do espectador de assisti-lo. E é então que chegamos ao segundo problema: além do título genérico o filme passou praticamente desapercebido pelos cinemas. Uma daquelas pequeninas comédias inglesas que têm que ser descobertas e vistas. Como Trabalho Sujo, Matador em Perigo (ambos com Emily Blunt no elenco), ou os deliciosamente inocentes De Bico Calado, As Garotas do Calendário ou Morte no Funeral (que ganhou uma inexplicável refilmagem norte-americana que, como de praxe, extrapola o limite do besteirol. No mau sentido).
Na história de Um Golpe Perfeito, Colin Firth (vencedor do Oscar por O Discurso do Rei) é Harry Deane, funcionário de uma grande empresa de mídia disposto a aplicar o tal golpe que dá nome ao filme. Num papel que parece ter escrito para Hugh Grant mas que ele se encarrega muito bem, Harry é o típico pateta que se acha esperto e facilmente irá se deixar levar pelas circunstâncias. Seu golpe: vender uma falsificação de um quadro desaparecido de Monet para seu chefe, grande colecionador de arte. Com seu eterno sorriso irônico estampado na cara, Alan Rickman (o professor Snape da saga Harry Potter) incorpora o tirano que irá testar a paciência do pobre Harry até os limites. O plano envolve ainda uma cowgirl aparentemente tola interpretada por Cameron Diaz (de Professora Sem Classe e do ótimo A Caixa) com um ar de diversão poucas vezes visto no cinema. Completa o time numa participação especial Stanley Tucci (de Julie & Julia e O Diabo Veste Prada) como um analista de obras de arte alemão.
Como é de se esperar as coisas não saem bem como planejado desde o início e com cada atitude Harry vai se complicando cada vez mais, até parecer que tudo já está perdido. Com piadas inteligentes mescladas ao humor físico (a empreitada de Harry Deane no hotel Savoy é agoniante e hilariante ao mesmo tempo) como só os ingleses sabem fazer, a história vai se desenrolando de forma simples com o riso correndo fácil, sem maiores pretensões, por curtos 80 minutos até seu final inesperado.
Refilmagem com adaptações de Como Possuir Lissu, de 1966 (que também se chama Gambit originalmente) com Shirley MacLane e Michael Caine no elenco e que teve três indicações técnicas ao Oscar, e com roteiro dos irmãos Cohen – responsáveis por escrever, entre outros, ótimas comédias de humor negro como Fargo e Queime Depois de Ler – Um Golpe Perfeito é uma comédia leve, que não se propõe a questionar nada nem mudar os rumos do cinema. Pura diversão inteligente. Como às vezes tem que ser.

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