Resenha do blog: O Quarteto

Não é a toa que quando se pesquisa sobre O Quarteto a primeira relação é com O Exótico Hotel Marigold. Pode-se dizer que sejam filmes irmãos. Ambos excelentes e permeando o mesmo tema de forma similar: a velhice em um grupo isolado longe de casa. Porém, além de Maggie Smith no elenco de ambos, as semelhanças param por aí. Talvez integrantes de um a nova leva (que caminha a passos de bengala, é verdade) de filmes “para a terceira idade”, os dois se diferenciam basicamente no humor. Se em Marigold as situações exóticas exigiam um pouco mais da veia cômica e o humor era mais fácil, em O Quarteto o humor é mais sutil e mais calibrado.

Primeiro filme dirigido pelo ator Dustin Hoffman (vencedor do Oscar por suas atuações em Kramer vs. Kramer e Rain Man) a história gira em torno de uma casa de repouso para músicos aposentados. Batalhas diárias com egos de gente que já foi famosa são os menores dos problemas. As doenças características da velhice estão na tela, mas tudo muito sutil, afinal O Quarteto não é um filme triste e uma noite de gala se aproxima, para comemorar o aniversário do compositor Verdi, com apresentações musicais. A rotina da casa muda quando Jean Horton, uma das mais famosas cantoras líricas inglesas chega para ficar. Sua antipatia inicial será logo quebrada, mas conflitos do passado não tardarão a aparecer.

De forma delicada o filme explora as relações entre aquelas pessoas que tanto já viveram e tiveram suas fases áureas e que tentam se agarrar no sucesso que já fizeram para conduzir os anos que lhes restam de vida. Ver atores que se valem apenas de seus talentos, sem medo de mostrar na tela suas rugas e imperfeições causadas pela idade é de um prazer descomunal. Maggie Smith, como não poderia deixar de ser, é magnífica a cada frase e erguer de sobrancelhas. Encontrando em cena seu companheiro dos tempos da saga Harry Potter (Michael Gambon, que interpretava o Professor Dumbledore enquanto ela mesma era a professora McGonagall) ela aqui é Jean Horton, a famosa cantora que melancolicamente se vê naquela casa estranha abordada pelos antigos companheiros de ópera: Tom Courtenay (de A Bússola de Ouro e Um Golpe Perfeito), Billy Connolly (de Desventuras em Série e O Último Samurai) e Pauline Collins (de Você Vai Conhecer O Homem dos Seus Sonhos e Albert Nobbs).

O que mais impressiona no filme, além claro de suas atuações, de seu texto rápido e de sua direção segura e firme, é o ar de melancolia que paira no ar. Todas as pessoas ali naquela casa sabem qual será seu futuro, que não tardará a chegar. A inevitabilidade da morte espreita de forma severa atrás das janelas e pelos vãos das portas. Mas aqueles sábios velhinhos não se deixarão abalar, tratando de seus problemas de saúde com muito humor. Até mesmo casos mais graves como Alzheimer. Outra das grandes mensagens do filme esáa em seu final que mostra que, mesmo com poucos anos de vida à frente, nunca é tarde demais para tentar ser feliz. E ali ele emociona de verdade.

Com participações especiais de vários artistas reais da ópera e do teatro ingleses, o elenco ainda conta com Martine McCutcheon, par romântico de Hugh Grant em Simplesmente Amor. Uma comédia dramática que se vale de seus atores e de seu texto como artifícios para um filme simples e verdadeiro. De emoções e pessoas reais. De atores de verdade que não se escondem atrás de efeitos ou edição mirabolante. Uma estreia de Dustin Hoffman na direção que carrega uma pontinha de medo do próprio futuro.

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