Resenha do site: Obsessão

21015264_20130625183055138.jpg-r_640_600-b_1_D6D6D6-f_jpg-q_x-xxyxxÉ muito fácil criticar as traduções dos nomes dos filmes americanos no Brasil. Todo mundo faz isso, inclusive eu já fiz. E realmente a criatividade é fora de proporção por aqui. Mas devemos admitir que algumas, raras vezes, eles acertam. Como em Sobre Meninos e Lobos (Mystic River): um título belo e poético para um filme idem. Ou agora, com Obsessão, que no original se chama The Paperboy.

Em seu título norte-americano, o drama do diretor Lee Daniels nos faz ver Jack Jensen (Zac Efron), filho mais novo do dono do jornal local e entregador como o protagonista desta história. No entanto, pode-se dizer que todos os demais personagens sejam tanto ou muito mais protagonistas do que eles. Pelo peso dos nomes do elenco também, mas pela força maior destes personagens em cena. Mas por quê Obsessão é um título mais apropriado?

Simples, porque todas as pessoas em cena têm alguma obsessão, incluindo o jovem Jack. O filme se passa no verão da década de 1960 no interior da Flórida. Neste pano de fundo, o pretenso jornalista Yardley (David Oyelowo, de Histórias Cruzadas) – um jovem negro que almeja a profissão de jornalista e se propõe a escrever a real história por trás de um assassinato – volta à cidade com o amigo também jornalista Ward Jansen (Matthew McConaughey) para desvendar a tal história apresentada por uma mulher que tem relacionamentos por cartas com presidiários: Charlote Bless (Nicole Kidman). Nestas cartas ela conhece Hillary Van Wetter (John Cusack), um condenado que clama sua inocência e por quem ela vai lutar para conseguir libertar. Charlotte está cegamente convencida que está apaixonada por Van Wetter e acredita piamente em sua inocência. Jack é outro dos nós de suma importância desta trama, afinal ele é irmão mais novo de Ward e também Anita Chester (Macy Gray), a empregada da casa da família Jansen. É preciso que se lembre do período histórico em que se passa o filme: os negros tinham recém adquirido direitos civis mas ainda enfrentavam um forte preconceito.

A tensão pulsa na tela durante todo o filme na forma deste preconceito e das obsessões de cada um: o jovem negro está obcecado por desvendar aquele caso pra lançar-se como jornalista; Ward parece querer impressionar o pai (dono do jornal) em todas suas atitudes; Charlotte obcecada por aquele estranho que mal conhece e acreditando em sua inocência; o acusado Van Wetter mostra-se tão obcecado por seus desejos sexuais para com aquela estranha que em certos momentos deixa de dar relevância para sua possível (e provável) condenação; e Jack cria uma paixão instantânea por Charlotte a partir do momento em que a vê.

O filme é nervoso, com jeito de que uma bomba vai estourar a qualquer momento, enquanto os personagens vão se envolvendo em desvendar o mistério da acusação de assassinato e o clima está tão pesado por conta de rixas pessoais, de personalidades conflitantes, do calor insuportável e de alguns acidentes pelo caminho, que uma simples palavra pode trazer danos irreparáveis.

O diretor indicado ao Oscar Lee Daniels (o mesmo de Preciosa e do aguardadíssimo O Mordomo), que vem se especializando em temas raciais, consegue manter tensão pulsante durante todo o filme até o final absolutamente estarrecedor. Por mais que num primeiro momento o filme não pareça interessante, talvez ele deva ter ao menos dois bons motivos para ser assistido: o retrato agoniante do calor numa cidade interiorana e preconceituosa dos Estados Unidos na década de 1960 onde os personagens suam constantemente e a temperatura acaba aquecendo também os ânimos; e a gigantesca entrega dos atores com seus personagens. Todos, sem exceção, estão espetaculares em seus papéis. Claro que o destaque maior vai pra Nicole Kidman, que finalmente consegue descongelar a cara e criar uma personagem ao mesmo tempo repugnante e  cativante.

Elenco, diretor, texto, fotografia, roteiro… tudo trabalhando junto numa impressionante construção de uma história onde os personagens são mais importantes que os fatos e as obsessões de cada um se sobrepõem ao objetivo de todos.

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