Resenha do Site – Rio 2

rio2_8Por Flávio St Jayme

Quando, em 2011, o diretor brasileiro Carlos Saldanha comandou e roteirizou a animação Rio para a Fox, ficamos maravilhados com o visual do filme e com a declaração de amor ao Rio de Janeiro que ele representou. Músicas, cores, cenários, tudo era um grande “esta é minha cidade” para o mundo, e representava a cidade maravilhosa para quem a via de fora. Se a representação era fiel, claro, era outra história. Mas a história de Blu e Jewel divertia e envolvia, mesmo simplória.

Na próxima quinta feira estreia no Brasil Rio 2. Ainda mantendo Saldanha na direção e roteiro e as vozes do primeiro filme (Rodrigo Santoro, Jesse Eissenberg, Anne Hathaway, Will.I.Am e Jamie Foxx), e desta vez adicionando novas vozes e personagens (Andy Garcia, Bruno Mars e Kristin Chenoweth). A trama agora leva Blu (Eissenberg), Jewel (Hathaway) e os três filhotes para a Amazônia, onde seus donos Tulio e Linda (Santoro e Leslie Mann) clamam ter encontrado um novo exemplar da ararinha azul. Isso pode significar que Blu e Jewel não são afinal os dois últimos da espécie, como ficamos sabendo ao final do primeiro filme. Quem viu os trailers e imagens divulgadas, além de ver algumas das boas piadas do filme, sabe bem o que eles irão encontrar: o pai há tempos perdido de Jewel: Eduardo (Andy Garcia) e um galanteador amigo do passado: Roberto (Bruno Mars).

A trama vai além, e se na primeira aventura era simplória, desta vez se divide em várias subtramas envolvendo, novamente uma ameaça humana. Confrontos entre bandos rivais de araras azuis e vermelhas, uma seleção musical, uma partida de “futebol”, uma cacatua em busca de vingança e Tulio e Linda lutando para salvar a Amazônia são algumas destas tramas, envolvidas por cenários espetaculares de floresta, músicas poderosas e voos panorâmicos sobre cidades como Ouro Preto e Brasília. Claro que as críticas (sociais e ambientais) estão ali, ainda que veladas, em forma de piada ou na figura do vilão.

Ararinhas adolescentes que ouvem iPad, sapos venenosos apaixonados, um tamanduá mímico e um macaquinho louco por pirulito são alguns dos personagens novos, que trabalham em função de atrair o público novamente para o cinema e não ser apenas ‘mais do mesmo’. E conseguem. Os novos personagens são tão cativantes quanto os apresentados em 2010 e funcionam à perfeição. Assim como a trilha sonora, novamente com Carlinhos Brown e Sérgio Mendes no comando. Músicas novas nas vozes de Mars e Janelle Monae dão novamente o tom de festa brasileira à aventura. As piadas do primeiro filme, que brincam com a questão do animal domesticado, que prefere acessórios e comidas de humanos continuam, afinal este é o grande problema de Blu, mas ao ser enviado pra selva, elas ganham outra perspectiva.

Em suma, se Rio era uma declaração de amor à cidade maravilhosa, Rio 2 se mostra uma declaração de amor ao Brasil. Ao mostrar diferentes cidades, não se atendo aos pontos turísticos de praxe (sim, eles passam por Salvador rapidamente), o filme mostra o Brasil de outra forma. Ainda que não profundamente. Nos resta esperar uma terceira aventura onde Blu e Jewel venham passar frio nas serras do sul do Brasil (fica aí a dica).

Um dos maiores trunfos de Rio 2 são suas vozes: Jesse Eissenberg e Anne Hathaway repetem as vozes do casal principal de ararinhas azuis. Rodrigo Santoro e Leslie Mann também repetem as vozes dos protagonistas humanos Tulio e Linda. Nomes como Jamie Foxx, Will.I.Am, Jemaine Clement, George Lopez e Tracy Morgan também reprisam seus personagens do primeiro filme. Novas vozes impactantes como Andy Garcia dublando o austero pai de Jewel e Bruno Mars fazendo o galanteador Roberto são imprescindíveis para a absorção total da qualidade do desenho. Assim como a esganiçada (mas fofa) perereca Gaby, que tem a voz de Kristin Chenoweth. Mas eles ficam de fora das versões que chegam ao Brasil. Assim como a maior parte das canções, traduzidas e redubladas. As canções são quase como personagens do filme, e o espetacular trabalho de Sérgio Mendes e Carlinhos Brown acaba indo pelo ralo, ainda que tendo sido compostas em português, o que mais as destaca é a mistura dos ritmos brasileiros com os vocais em inglês.

Infelizmente a sessão apresentada para a imprensa, e provavelmente a única que passará nos cinemas brasileiros, era dublada. Além das discussões infinitas contra e a favor das dublagens, claro que temos uma animação, um filme para crianças. Que deve sim ser dublado. Porém, temos dois pontos a serem levados em conta aqui: adultos deveriam ter a opção de, se quiserem, ver o filme legendado; e a dublagem deveria deixar de fora as músicas. Dublar e traduzir I Will Survive, clássico de Gloria Gaynor transformado em hino GLBT torna a música irreconhecível para o grande público até o final, destruindo uma das melhores piadas do filme. Sim, a dublagem é melhor que a de vários outros desenhos, mais eficiente e feita por gente que sabe o que está fazendo. Mas dublar as canções não originais é exagero e trabalha contra o filme. Assim como arrancar a opção do público de ver os personagens com as vozes de Garcia ou Chenoweth.

http://www.youtube.com/watch?v=ceQFu-1JmUo

2 comentários em “Resenha do Site – Rio 2

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  1. Discordo somente quanto a dublagem, sou dublador da Gramofone e Alcatéia e algumas versões como a música poisonous love, a versão brasileira dá um banho em relação a original, a soprano faz emocionar e tem muita dicção para uma música muito difícil onde se exige somente a emoção, no mais, estou de acordo.

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