#comentáriosliterários – Os Três, de Sarah Lotz

Eu acho que este é o primeiro post sobre livros aqui do site. Não é uma resenha, são apenas comentários. Eu sempre achei complicado escrever ou resenhar livros porque são obras que às vezes levam mais de mês pra serem lidas e nem sempre lembro de todos os detalhes que quero na hora de resenhar.

Mas Os Três, de Sarah Lotz vem se mostrando um livro tão fascinante que não consegui não escrever sobre ele.

Em primeiro lugar, preciso dizer que quando o baixei não sabia nada a respeito. Me interessei pela capa e pelo design dele na loja (a lateral é pintada de preto, assim como a capa, com detalhes em vermelho) e como sim, sou desses que lê um livro (também) pela capa, fui atrás. Foi assim que li Branca de Neve Tem Que Morrer, de Nele Neuhas (excelente) e A Corte do Ar, de Stephen Hunt (interessante mas um pouco fora do meu estilo). E foi assim que acabei lendo Os Três.

Li a sinopse na contracapa e a história me pareceu interessante: trata-se dos relatos sobre três crianças que foram as únicas sobreviventes de quatro acidentes aéreos ocorridos ao mesmo tempo em quatro regiões diferentes do mundo em janeiro de 2012. Na hora que comecei a ler, veio a primeira questão: mas isso é real?? Eu não me lembro dessas quedas de aviões e, como é recente, acho que me lembraria. Mas continuei lendo, com aquela dúvida na cabeça. Somente na metade do livro fui procurar e descobri que não, que é tudo criação da autora. Comparações com Stephen King são inevitáveis e, é dele a catchphrase na capa do livro:

ostres

O livro é contado por meio de relatos, e existe um livro dentro do livro. Escrito “por Elspeth Martins”, este livro compila artigos de jornal, conversas de MSN, entrevistas via Skype e coisas do gênero para contar a história dos acidentes, dos envolvidos e das três crianças sobreviventes. O que vai além desta parte ainda não sei.

O fato é que tudo é tão bem construído, as reportagens e depoimentos são tão reais que realmente fica a dúvida: isso tudo aconteceu mesmo? Na medida que a história vai se desenvolvendo, vamos percebendo detalhes estranhos sobre as crianças, com toques de teorias de conspiração (que envolvem alienígenas e os quatro cavaleiros do apocalipse) e de terror (daqueles que te faz erguer os olhos do livro para ver se não está sendo observado por algo indesejado).

Sempre achei exagerada aquela coisa de “não conseguir largar” um livro, mas é essa a sensação. O capítulo acaba e você quer mais. A trama vai ficando intrincada, os personagens se mostrando mais e, aos poucos a autora vai soltando pistas pela história. Como o relato acontece (teoricamente) DEPOIS dos acontecimentos e é feito por pessoas envolvidas, sabemos que aquelas informações não são imparciais, podem envolver emoções particulares, e frases como “relato da última vez que a viu vivo”, “última conversa antes de seu sumiço” e “ele não costumava fazer essas coisas que faz hoje antes do acontecido” vão deixando a gente cada vez mais intrigado.

Segundo o site da Editora Arqueiro (responsável pela publicação), Sarah Lotz é roteirista e autora de romances pulp fiction com uma queda pelo macabro e por nomes falsos. Escreve histórias de terror urbano como SL Grey e uma série jovem de zumbis com sua filha, Savannah, sob o pseudônimo Lily Herne, além de livros eróticos como Helena S. Paige. Mora na Cidade do Cabo com a família e seus animais de estimação.

Abaixo reproduzo uma entrevista com a autora, encontrada no site Recanto da Mi feita por Mirelle Candeloro via email, onde ela fala, entre outras coisas, do interesse de um canal em transformar o livro em seriado, na sequência da história e na pesquisa que tudo envolveu.

*CUIDADO, O TEXTO ABAIXO PODE CONTER SPOILERS!*

Os-Tres

MC: De onde surgiu a ideia de escrever Os Três?

SL: Eu morro de medo de voar de avião e sempre quis escrever um livro que falasse a respeito de acidentes aéreos como uma forma de tentar lidar com a minha fobia (eu costumo escrever sobre coisas que me amedrontam, imaginando que seria catártico). Infelizmente, toda a pesquisa feita para compor o livro acabou me deixando com ainda mais medo.

MC: Seu livro possui muitos dados técnicos e precisos, desde os acidentes de aviões, as equipes de resgate, teorias conspiratórias, etc. Você fez muitas pesquisas para compor a história? Quanto tempo levou para escrever o livro?

SL: Teve uma enorme quantidade de pesquisa envolvida. Dentre outras coisas, eu entrevistei pilotos comerciais e investigadores de acidentes aéreos, viajei para Tokyo e visitei a floresta Aokigahara, estudei os relatórios da NTSB, acompanhei paramédicos sul-africanos, reli o velho testamento, mergulhei na escatologia, dei uma lida na história econômica do Japão e na influência da religião na política americana, bem como falei com teóricos conspiracionistas que acreditam que os aliens invadiram a sociedade. Muito disso foi perturbador, principalmente as leituras feitas dos relatos de pessoas que perderam seus entes queridos em trágicas circunstâncias.

Eu levei praticamente um ano pesquisando sobre o assunto e seis meses escrevendo o livro.

MC: Você já sabia como terminaria o livro quando começou a escrevê-lo? Por que optou por deixar um final aberto?

SL: Sim, eu sabia o final antes mesmo de começar a escrever. Não tenho certeza de que o final é aberto! Dito isso, muitos leitores acharam que eu expliquei demais, enquanto outros consideraram o final um tanto ambíguo.

MC: Por mais que você não tenha sido explícita sobre quem eram Os Três, você tem essa informação na sua cabeça? Eles eram mesmo alienígenas? Ou tudo na verdade não passa de uma alucinação?

SL: Você irá descobrir isso no meu próximo livro! Não posso dizer nada sem soltar spoilers.

MC: Como foi escrever um livro com tantos detalhes, personagens, informações e ambientes diferentes? Confesso que demorei um pouco até encaixar as peças do quebra-cabeça e criar familiaridade com os personagens. Você chegou a ser perder nesse emaranhado do enredo?

SL: Foi como brincar de quebra-cabeça! Eu tive que ser muito cuidadosa ao editar os fios da meada, tendo em vista que a remoção de uma pequena peça poderia causar impacto na linha de tempo da história mais tarde.

MC: Os Três daria um excelente filme. Você já teve alguma proposta de adaptação do livro para a TV ou Cinema?

SL: Sim, a excelente Company Pictures do Reino Unido tem interesse de transformar o livro numa série para a TV.

MC: Você tem algum outro projeto em vista? Pode nos falar a respeito?

SL: Eu estou ocupada terminando meu próximo livro, que irá referenciar os eventos de Os Três, e trará respostas para os questionamentos que os leitores de Os Três fizeram sobre o final da história. Será ambientado num cruzeiro e vai se chamar Day Four.

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