Resenha do site: Que Mal Eu Fiz a Deus?

que mal eu fiz a deusÉ impressionante como o cinema europeu consegue tratar de temas espinhosos de forma leve e alegre. Seja falando de sexualidade (O Primeiro Que Disse), diferenças de classes sociais (A Gaiola Dourada), romance entre diferentes (A Delicadeza do Amor), política (Adeus, Lênin), diferenças e desavenças familiares (Parente É Serpente) e até mesmo nazismo (Qual o Nome do Bebê?), os filmes portugueses, italianos, alemães e especialmente franceses tratam os assuntos como quem conversa sobre bolos e tortas. E, claro, isso torna tudo muito menos didático e mais aprazível.

Pois tente imaginar um filme que fale de preconceito religioso e racial. Que ponha batendo de frente tradicionalismo com globalização. Difícil imaginar que se trate de um filme leve e engraçado, não é? E de fato, nas mãos de uma equipe menos apta, seria digno de uma tragédia urbana.

Em Que Mal Eu Fiz a Deus? um pai vai precisar enfrentar todos os seus preconceitos: um judeu árabe, um muçulmano e um chinês enfrentam a ira de um sogro enraizadamente francês que, mesmo se dizendo de mente aberta, não vai gostar nem um pouco de vê-los casando com suas filhas. Das quatro filhas, somente uma continua solteira e é ela a esperança dos pais para um casamento católico tradicional, com um francês de boa família, branco e bem estabelecido. Esperança esta que logo vai abaixo quando Laure apresenta Charles: um negro vindo da África. Mas católico!

Repleto de brigas sobre raça, religião, cor e tradição, o longa é simplesmente delicioso. Coloca todos estes preconceitos de forma absurda e ridícula como de fato são. Retratando uma situação política e social bem presente na França (tanto com relação ao número de imigrantes quanto ao preconceito), Claude e Marie (os pais) vão ter que enfrentar todos os seus dramas pessoais para não desagradarem as quatro filhas.

Claro que o filme é previsível e que os personagens são estereotipados. Mas não estamos em busca de uma obra-prima. Queremos sim ver um filme que mexa numa ferida aberta da sociedade mas que não nos dê lição de moral. Que não tenha pretensões de ser mais do que é mas que ao mesmo tempo seja uma grata surpresa. Os pais logo perceberão que não são os únicos preconceituosos da história e que, pior ainda, quem sempre sofreu preconceito é tanto quanto eles. Ou ainda mais. Graças à sua direção ágil, seus diálogos, piadas que não poupam nem o padre e ao carisma de seus atores o filme funciona perfeitamente bem.

Quase uma comédia romântica, o longa do diretor Philippe de Chauveron chega ao Brasil mais de um ano depois de ter feito enorme sucesso na França, demonstrando que o país também não se importa de ter um filme leve em seus cinemas e não vive somente de Truffaut e Godard. Ou isso é preconceito meu?…

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