Não muito conhecida por aqui, existe uma lei nos Estados Unidos que permite que estranhos peçam a tutela de idosos considerados “incapazes”. Qualquer pessoa pode pedir uma avaliação médica de um idoso e ir a um juiz para assumir o controle dos bens e da vida deste idoso, impedindo, inclusive, o contato da família com ele.
É a partir desta premissa que o diretor e roteirista J Blakeson constrói Eu Me Importo, que estreou esta semana na Netflix.
No longa, Marla Grayson (Rosamund Pike) é uma golpista especializada em tomar a tutela e a curadoria de idosos considerados incapazes. Com a ajuda de uma médica e de um juiz bastante conivente, Marla sustenta uma firma de curadoria e uma casa de repouso com os ganhos extraídos de seus tutelados. Tudo (ou quase tudo) legalmente. Até que ela decide aplicar o golpe em uma senhora que parece ser a dona dos ovos de ouro: sem família, sem amigos e rica, Jennifer Peterson (Dianne Weist) promete ser a solução de todos os seus problemas e fonte de uma riqueza inesgotável. Mas o que Marla não sabia é que Jennifer não está tão sozinha assim.
A trama de suspense nos leva nesse emaranhado de golpes até o ponto em que o que vemos em cena é um golpista querendo ganhar do outro. E pior: não tem como a gente não torcer por Marla, por mais errada que a gente saiba que ela está. Rosamund Pike está, novamente, espetacular como a mulher misteriosa de sorrisinho torto que ganha a gente no olhar pra bater nossa carteira (como esteve em Garota Exemplar).
É raro um filme em que ninguém está certo, mas aqui a gente tem um jogo onde somente os vilões aparecem. Desde a namorada de Marla (Eiza González), até o advogado pomposo (Chris Messina) ou o misterioso homem de preto (Peter Dinklage), todos são vilões. O que a gente, do lado de cá, tem que decidir é: qual é o menos pior?
Eu Me Importo consegue manter o mistério, o suspense e nos deixar prendendo a respiração e tentando descobrir seus segredos o tempo todo e a performance de Pike já lhe rendeu uma indicação ao Globo de Ouro de melhor atriz. Uma comédia diferente e um ótimo filme que nos mostra que no cinema, assim como na vida, às vezes o jogo é só dos predadores. Temos apenas que torcer para estar do lado certo (ou errado?) da briga.
Será que teremos também uma indicação ao Oscar como aconteceu com Garota Exemplar que colocou a atriz concorrendo aos dois maiores prêmios do cinema americano?
