Resenha do blog: J.Edgar

O diretor Clint Eastwood está acostumado com o Oscar. Seus filmes mais recentes foram indicados várias vezes (Invictus, A Troca, Além da Vida, Cartas de Iwo Jima, Menina de Ouro) e levaram alguns prêmios (o último citado ganhou 4 estatuetas, inclusive melhor filme, direção e atriz – por mais que eu não entenda como tenha ganho de Em Busca da Terra do Nunca ou O Aviador). Mas este ano acabou caindo do cavalo – com o perdão do trocadilho. Seu J.Edgar passou bem longe do prêmio da academia e concorreu somente ao Globo de Ouro de melhor ator-drama pela interpretação magnífica de Leonardo DiCaprio.
O filme conta a história do criador do FBI por meio de flashbacks, tática nem um pouco original, vá lá. De sua juventude, na luta contra os comunistas, até a briga com os bandidos-celebridade de Chicago na década de 50, a história mostra a determinação daquele homem que se propunha a revolucionar a forma como se investigavam os crimes nos Estados Unidos. Um homem passional. Apaixonado pelo seu trabalho e por sua mãe. E por seu colega de departamento e subordinado, Clyde Tolson (Armie Hammer).
Eu não conhecia a história de John Edgar Hoover, absolutamente nada. Fui ao cinema esperando uma pataquada política, pois existia muita política envolvida nas investigações e era basicamente isso que seu trailer infeliz mostrava. Me surpreendi ao ver um filme político sim, até certo ponto. Mas ao mesmo tempo visualmente impecável, em tons de sombra, sensível no que diz respeito à força daquele homem tão poderoso e temido em seu trabalho e tão forçado a abdicar de seu amor por outro homem por imposição da época, do cargo e de uma mãe dominadora, ainda que amável. A dor nos olhos dos dois ao não consumar o carinho que sentem um pelo outro é quase física. Quase podemos sentir junto com eles e entender a confusão em que Hoover entra por não entender ou não aceitar aquele sentimento. Mas a mãe é enfática: “prefiro ver um filho morto a ter um filho homossexual”. Então ele mergulha em seu trabalho.
O Edgar Hoover que o filme mostra é este homem forte, imponente, que fala e raciocina rápido, mas que é infeliz em sua vida particular incompleta.
As interpretações de DiCaprio (como o próprio Hoover, boa parte do filme debaixo de uma pesada maquiagem), Naomi Watts (como sua secretária particular), Armie Hammer e Judi Dench (magnífica como sempre no papel da mãe de Hoover) são impecáveis. Mais uma vez DiCaprio mostra que há muito deixou de ser só a carinha bonita de filmes como Titanic, A Praia ou O Homem da Máscara de Ferro. Tornou-se um ator excepcional, como pode-se provar aqui ou em filmes como A Origem, Foi Apenas um Sonho, Os Infiltrados e O Aviador. Rumores dizem que interpretará Frank Sinatra numa cinebiografia dirigida por Martin Scorsese, que já o dirigiu no fraco Ilha do Medo e nos oscarizados e já citados Os Infiltrados e O Aviador.

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