Em 2006 o American Film Institute resolveu comemorar os 100 anos do cinema. Entre outras coisas, elegeu uma lista dos 25 maiores musicais americanos de todos os tempos. Em primeiro lugar estava um filme que homenageava o cinema de forma simpática, divertida romântica e com musicas e cenas que se tornariam clássicas. E que no último dia 30 de junho completou 60 anos de lançamento: Cantando na Chuva.
A obra prima estrelada por Gene Kelly, Debbie Reynolds e Donald O’Connor conquistou público e crítica e até hoje é celebrada como um dos mais geniais filmes do gênero. Concorreu a dois Oscars (trilha sonora e atriz coadjuvante para Jean Hagen), também ao Globo de Ouro de melhor filme musical ou comédia e venceu o mesmo prêmio na categoria melhor ator (Donald O’Connor).
Como o vencedor do Oscar de melhor filme este ano, O Artista, Cantando na Chuva presta uma homenagem a um momento de importante transição no cinema americano: quando os filmes mudos foram substituídos pelos falados. Na história passada na década de 20, Don Lockwood (Kelly) e Lina Lamont (Hagen) são o casal queridinho dos filmes silenciosos até que a novidade da fala entra em cena. Mas Lina possui uma voz estridente e um sotaque carregado e não consegue se adaptar à nova tecnologia. É quando surge Kathy Selden (Reynolds), a novata que ganha o coração de Lockwood e acaba por ganhar também o lugar de Lina Lamont. Quando o estúdio para o qual trabalham decide que seu novo filme será falado, o melhor amigo do astro sugere que a novata duble a atriz veterana nas cenas, até que tudo perde o controle.
Com muitos números musicais, muita graça, leveza e alegria, a jornada de Don Lockwood é contada de forma onírica ao longo das quase duas horas do longa. Intercalando momentos românticos com alguns levemente cansativos, o filme conquistou corações ao redor do mundo e se mantém até hoje como um dos mais importantes e icônicos do gênero.
Algumas de suas cenas e musicas se tornaram clássicas, como a sequencia que dá nome ao filme, copiada e referenciada incessantemente no cinema (e até mesmo nos quadrinhos de Mauricio de Souza), onde Gene Kelly dança de felicidade sob uma chuva torrencial após deixar sua amada em casa; ou o numero musical com Kelly, O’Connor e Reynolds quando eles se dão conta que passaram a noite em claro juntos conversando e rindo. Sim, era tudo muito ingênuo. Cenas românticas viram comédia pastelão (de propósito) por causa da inexperiência de roteiristas com diálogos, cenas são improvisadas, técnicos contratados, para fazer o filme dentro do filme funcionar. E tudo funciona brilhantemente.
Das musicas do filme, hoje clássicas, apenas uma foi composta especialmente para a ocasião: Moses Suposes. A cena que mistura comédia física, sapateado e acrobacias é tão natural que parece nunca ter sido ensaiada e foi responsável por levar o ator (O’Connor) ao hospital, já que com quatro maços de cigarro consumidos diariamente era um pouco de esforço a mais do que ele era capaz. Mas os problemas não foram só seus: Gene Kelly precisou superar uma febre de 39° e um terno que havia encolhido (já que a água da chuva em cena era misturada com leite para realçar o efeito) ao gravar a cena de Singin’ in the Rain; e Reynolds também, que viu seus pés sangrarem de tanto sapatear no numero musica de Good Morning.
O filme todo é ingênuo, infantil, quase bobo. Mas talvez por isso mesmo tenha se tornado uma das obras mais importantes do cinema. Alegria, musica, dança e romantismo para espantar os problemas. Aqui parece que a máxima ‘quem canta seus males espanta’ é mais do que bem ilustrada.
Singin’ In The Rain
Good Morning


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