É extremamente gratificante quando vemos um filme que não duvida da nossa inteligência e competência para apreciar somente bons atores e bom texto. Mais nada. Nenhuma peripécia tecnológica, nada de efeitos especiais, gente de 70 e tantos anos sem plástica e que parece ter realmente 70 e tantos anos, atores excepcionalmente competentes, um ótimo filme, em resumo.
As mãos hábeis que dirigiram o oscarizado Shakespeare Apaixonado agora dirigem O Exótico Hotel Marigold. Como o filme anterior, este é inglês até a última gota de chá das cinco e, por isso mesmo, delicioso. Claro que o diretor John Madden também é o responsável por bobagens do nível de Capitão Corelli, mas isso a gente ignora. Seu Shakespeare Apaixonado era ágil, engraçado, romântico, sarcástico e sonhador até onde um filme inglês era capaz de ser. E Marigold repete o feito. Trazendo novamente Judi Dench encabeçando um elenco de verdadeiros patrimônios ingleses da atuação, o filme conta a história de diferentes pessoas, idosos, da Inglaterra que por um motivo ou outro decidem ir morar no “Exótico Hotel Marigold”: um auto-anunciado hotel para a terceira idade… na Índia!
Nunca é demais lembrar que Judi Dench ganhou um Oscar de melhor atriz coadjuvante pelo papel da Rainha Elizabeth na aventura romântico-shakesperiana no diretor com apenas oito minutos em cena durante todo o filme. Uma atriz de altíssima capacidade aqui com mais tempo em cena. Neste filme ela é Evelyn Greenslade, uma senhora que se vê sozinha e falida com a morte do marido. Por um caminho ou outro, todos os personagens irão parar no hotel, que na verdade não é em nada parecido com o folheto de divulgação: Tom Wilkinson é o juiz aposentado que, sem rumo, resolve voltar à Índia onde viveu 40 anos atrás; Bill Nighty (sempre ótimo) e Penelope Wilton são o casal em crise aos 40 anos de casamento que, falido, resolve mudar de ares; Maggie Smith (sem palavras, responsável pelas melhores tiradas politicamente incorretas do filme) é a senhora que precisa de uma operação no fêmur e por falta de opções na Inglaterra se submeterá a uma viagem para ser operada; e por fim Ronald Pickup e Celia Imrie como dois cinquentões que sonham em encontrar suas caras-metades ricas em terras longínquas. Este grupo aportará no hotel gerenciado por Sonny Kapoor (Dev Patel, o mesmo de Quem Quer Ser um Milionário), em pedaços, sem hóspedes e beirando a falência.
Claro que a vida de todos sofrerá grandes mudanças nesse lugar exótico e que aos poucos iremos descobrindo a vida de cada um deles. Mas é maravilhoso ver atores tão competentes (todos eles, sem exceção) se despindo de vaidades e mostrando suas rugas e linhas de expressão em interpretações sinceras, fluindo num texto por vezes aterrador (algumas cenas são dignas de lágrimas). Um elenco de estrelas, mas estrelas em competência e não em mérito de ‘levar público ao cinema’, e que mostra que para se fazer um filme de verdade não é necessário um orçamento milionário gasto em efeitos digitais. Talvez um bom roteiro, atores competentes que saibam dar vida a personagens de verdade e que não tenham a profundidade de um pires seja o suficiente. Pode não levar a grande massa ao cinema, mas que com certeza nos deixa de alma lavada, ah isso deixa.