Um diretor praticamente desconhecido (ao menos no circuito comercial), elenco igualmente estranho do grande público e um filme que quase ninguém sequer ouviu falar. Ainda assim A Parte dos Anjos é um ótimo filme.
Diz-se que Ken Loach, seu diretor, é empenhado em dramas realistas e filmes engajados. E a crítica da Folha de São Paulo salientou esta informação ao dizer que A Parte dos Anjos foge desta tradição. Ainda bem.
Se na primeira metade o filme patina no drama de um grupo de desordeiros condenados a serviços comunitários, é da metade pra frente que o filme vale a pena. Numa espécie de Ou Tudo Ou Nada: um retrato de pessoas a margem da sociedade lutando pelo pão de cada dia, mas com muito humor.
Partimos do princípio que nenhum daqueles jovens é inocente ou foi condenado injustamente. Nos serviços em grupo alguns deles acabam por nutrir uma amizade e conquistar o carinho do responsável. A peça principal é Robbie (Paul Brannigan): condenado não pela primeira vez, ele tenta reconstruir a vida enquanto a namorada dá à luz ao primeiro filho do casal. Brigas de gangues e famílias acabam por alertá-lo do inevitável: uma vez nesta vida, é praticamente impossível sair dela vivo. Num dos passeios off-the-record com o grupo, o instrutor os leva a uma destilaria de wisky e, a partir daí, o filme ganha outros ares e se torna delicioso.
Robbie logo percebe que tem um nariz talentoso para o ramo de degustadores e negociadores da bebida e passa a se interessar cada vez mais pelo assunto. E vê ali uma grande oportunidade de sim, abandonar a vida enfadonha que leva. Um barril do mais raro wisky é encontrado em uma fazenda e seu leilão será estimado em 1 milhão de libras. Então ele e mais três amigos decidem que não fará mal algum se tiverem “a sua parte” para recomeçarem a vida.
Quando deixa de querer ser panfletário o filme flui agradável e leve. Seu humor é dosado e a empatia pelos quatro protagonistas acaba por acontecer inesperadamente. Se na primeira parte quase dá vontade de abandonar a história, da metade pra frente ficamos presos no gole estapafúrdio dos quatro.
Não é difícil soltar um suspiro aliviado quando a história chega ao ápice e nem de pensar no belo ar de redenção que a história toma. Assim como não é difícil deixar de condenar aqueles quatro atrapalhados. Numa espécie de filme dos Trapalhões com cérebro, a comédia mesclada com drama nos faz pensar sobre algumas de nossas atitudes e faz acreditar que todos merecem uma segunda chance. Mesmo que talvez ela não venha pelas vias mais certas….
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