Vinte anos de ‘Priscilla – A Rainha do Deserto’

Quando Priscilla foi lançado, o cinema australiano se resumia aos filmes de Crocodilo Dundee. E mesmo depois de seu lançamento, poucas foram as exceções a esta regra. Mas se o filme não foi o bastante para mudar a imagem do mundo diante do cinema local, foi sim o bastante para mudar outro estigma no cinema.

Priscilla – A Rainha do Deserto contava a história de dois homens, Adam (Guy Pearce) e Anthony (Hugo Weaving) e uma transexual, Bernadette (Terrence Stamp) em uma viagem ao centro da Austrália para uma performance em um show de drag queens. Originalmente Anthony recebe o convite para ir sozinho se apresentar, mas decide convidar a mal-humorada Bernadette (que recentemente perdera seu parceiro) e o irritante Adam para ir com ele na viagem. Cada personagem possui, contanto, segredos próprios de antes da expedição e veremos sua viagem física e emocional em cena.

Priscilla-MeetOurSaviorsL
Terrence Stamp, Guy Pearce e Hugo Weaving

Com seus excessos de maquiagem e figurino e músicas dos anos 70, Priscilla definiu uma década de cinema australiano e abriu as portas do cinema para representações mais positivas e emocionais dos grupos LGBT na tela grande.

Quando estreou, em 1994, o filme foi uma ótima e bem vinda mudança de outros filmes do tema gay, oferecendo uma visão mais intimista da comunidade LGBT em Sidnei.

Uma das razões para o sucesso de Priscilla, foi o fato de ter sido feito na Austrália. Embora seja um continente distante da Europa e da América do Norte, o filme não fica distante de dramas produzidos em países mais conhecidos ao retratar a jornada – às vezes cômica, às vezes tocante – de personagens para seus novos lares.

Como qualquer road movie que se preze, Priscilla oferece à audiência a promessa de mudanças e algumas epifanias que serão encontradas durante a projeção. E prova que isso é verdade quando nossos heróis são envolvidos em histórias familiares emocionais, como conhecendo um filho ou perdendo um parceiro, ao longo do caminho. Enquanto lutam com a homofobia sempre presente nas pequenas cidades pelo caminho.

Priscilla_Queen_of_the_Desert

Com relação ao seu contexto, o filme ofereceu um suspiro de alívio diante da devastadora década de 80 para a comunidade gay com a epidemia da AIDS. Foi um tempo de retomar o amor e a liberdade conquistada na década de 70 que a epidemia do vírus brutalmente roubou durante uma década inteira estigmatizada. Porém Priscilla evita qualquer luta ou discussão sobre o HIV, apenas lembra à comunidade LGBT o impacto da doença que ainda perdurava, quando o ônibus em que viajam é pichado com “AIDS FUCKERS GO HOME” durante uma estada em uma pequena cidade. Mas logo ele é repintado com um cor de rosa alegre e orgulhosamente segue sua jornada.

É justamente por isso que Priscilla é ainda hoje tão celebrado. O filme tem a coragem de mostrar, além de personagens que apesar de frágeis por fora possuem uma força extraordinária e a gigante capacidade de enfrentar o mundo de braços abertos e com alegria, mesmo que seja tudo dançando Mamma Mia do Abba de salto alto.

* Este texto é tradução de parte de uma reportagem do site da Out Magazine

Deixe um comentário

Acima ↑