Em 2009, quando a Academia de Cinema de Hollywood divulgou os indicados a melhores do cinema em 2008, muitas pessoas ficaram surpresas com a ausência de um título na categoria de “melhor filme”: O Cavaleiro das Trevas.
A sequência de Batman Begins dirigida por Christopher Nolan é considerada até hoje um dos melhores filmes de super-heróis de todos os tempos, e acabou rendendo 8 indicações ao Oscar: sete delas nas categorias técnicas (venceu o Oscar de melhor edição de som) e uma nas categorias de atuação (Oscar de melhor ator coadjuvante para Heath Ledger, falecido no ano anterior).

Quando se fala em categorias técnicas, aliás, a Academia sabe valorizar os filmes de heróis. Mas aparentemente só ali.
A repercussão da ausência de O Cavaleiro das Trevas na categoria de melhor filme foi tanta, que no ano seguinte o Oscar passou a indicar “até 10 filmes” na categoria principal (ao invés de cinco como era até então), como meio para que os filmes de heróis pudessem ter sua vaga. O que não adiantou muito. Os longas de super-heróis só foram ser lembrados na categoria principal 10 anos depois, em 2019, quando Pantera Negra se tornou o primeiro (e único até agora) filme de super-herói a conseguir uma indicação a melhor filme. Não dá pra considerar Coringa um filme de super-herói, né?
Em 2020, Vingadores: Ultimato poderia muito bem também ter sido indicado. Um filme excelente, com forte apelo emocional, ótimos personagens e a segunda maior bilheteria da história do cinema (com quase $3 bilhões de dólares arrecadados no mundo todo), foi indicado somente a um Oscar: melhores efeitos visuais (e não levou). Nem mesmo a indicação de Robert Downey Jr, esperada por muitos, aconteceu, e a primeira indicação nas categorias de atuação em um filme do MCU só veio neste ano, pelo trabalho incrível de Angela Bassett em Pantera Negra: Wakanda Para Sempre.
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Avatar, Titanic e Avatar: O Caminho da Água, os outros campeões de bilheteria no cinema, todos foram indicados a melhor filme. Titanic, inclusive, venceu onze categorias, incluindo melhor filme.
Neste ano, em uma entrevista, o diretor Steven Spielberg afirmou que foi um verdadeiro absurdo O Cavaleiro das Trevas não ter sido indicado a melhor filme em 2009. Spileberg, diretor conhecido por seus blockbusters como Indiana Jones. Jurassic Park e Tubarão, só ganhou Oscars de melhor diretor com seus filmes mais “sérios”: A Lista de Schindler e O Resgate do Soldado Ryan.
Este ano, provavelmente mais como uma estratégia para aumentar a audiência da premiação, pelo menos 3 filmes de grandes bilheterias estão na categoria de melhor filme: Avatar: O Caminho da Água, Top Gun: Maverick e Tudo Em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo.
O ranço da Academia com relação a blockbusters é tanto que, em 2018, chegaram a anunciar a criação de uma categoria para “melhor filme popular” e, depois de uma revolta internacional (que questionava justamente a separação e o fato de deixarem claro que um filme bom era diferente de um filme popular) foi cancelada antes de nascer.
Quando falamos em filmes de terror, o problema se repete. 2023 marca a 95ª edição do Oscar. Em 95 anos, sabe quantos filmes te terror foram indicados a melhor filme? Seis: O Exorcista, Tubarão, O Silêncio dos Inocentes (que venceu o “big 5” do Oscar em 1991 – melhor filme, ator, atriz, diretor e roteiro adaptado), O Sexto Sentido, Cisne Negro e Corra.
Em 95 anos de Oscar somente seis filmes. E somente um vencedor. Filmes recentes, como Hereditário, Nós, Não! Não Olhe! e X: A Marca da Morte chegaram a ser cotados para indicações na categoria principal, mas não chegaram lá. Ou mesmo nas categorias de atuação, como Toni Collette em Hereditário, Lupita Nyongo em Nós, Keke Palmer em Não! Não Olhe! ou Mia Goth em X e Pearl. Mas, novamente, os votantes da Academia pareceram achar que filmes de terror são trabalhos “menores” que não merecem indicações.

O clássico O Iluminado, por exemplo, não teve nenhuma indicação. Psicose, recebeu 4 indicações (incluindo melhor diretor para Alfred Hitchcock e melhor atriz para Janet Leigh), mas não a de melhor filme. E não levou nenhuma. Ambos os filmes são considerados alguns dos melhores do gênero.
Filmes de super-heróis parecem ser bons o bastante para a Academia nos quesitos técnicos, mas aparentemente não demandam bons trabalhos de direção, atuação ou roteiro. Já os de terror, parecem servir só para dar sustos mesmo. Será que é assim?
O Oscar e a Academia parecem se unir ao pensamento de diretores como Martin Scorsese e Francis Ford Coppola que dizem que “filmes da Marvel não são cinema”, ou outros diretores que acham que filmes de heróis são menores, como Alejandro G. Iñárritu, Denis Villeneuve, Roland Emmerich e Ridley Scott.
Pra muita gente do público comum, “filme vencedor do Oscar” é sinônimo de “filme chato”. E, quando se fala de bilheteria, esse pensamento parece se refletir: o último vencedor de melhor filme com grande bilheteria foi O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei há 19 anos.
