Muita gente tem a concepção de que tricô e crochê são coisas de mulher. Mas (felizmente) muitas das barreiras de sexo e gênero estão caindo por terra. Poucas são as coisas que ainda se dizem “de homem” ou “de mulher”. E o mais novo hábito a entrar nessa onda é justamente a arte de criar coisas com agulha e lã.
Contestar a imagem de que a atividade é feminina não estava no pacote inicial. A ideia era explorar o trabalho manual e usá-lo para criar arte e peças de decoração. Mas olhares desconfiados surgem quando o artista plástico Thiago Rezende retira as agulhas e a lã da sacola, se senta numa praça e passa fazer os pontos das peças.
Ele jura que nunca passa disso. Em geral, mesmo os homens, sentem-se à vontade com a função com poucos minutos. “Nunca sofri preconceito de forma nenhuma. Até porque tenho uma cara mais marrenta, de mau (risos). Em Jacareí, teve um dia com dez homens por lá. Em meia hora eles pegaram o jeito e perceberam que é gostoso. Que é uma bobagem ficar com isso de ‘atividade para homem’ e ‘atividade para mulher’”.
Na página do facebook do projeto, Thiago mostra os diferentes produtos criados por ele com lã e agulha, como peças de roupa, pequenos animais e até flores. Fotos das intervenções e de projetos semelhantes também são publicadas.
Pode parecer coisa nova, mas Thiago não inventou a roda. O espanto é parte de um componente cultural. Se a imagem mais comum para boa parte das pessoas é a da avó bordando, é bom lembrar que ainda há muitos lugares onde são os homens os artesãos. Bordar era, aliás, coisa para homem inicialmente. Segundo a revista portuguesa Magazine, a coisa é bem antiga:
Ninguém sabe como ou onde surgiu o tricô, apesar de as peças mais antigas – datadas de 1200 d.C. e feitas em ponto meia, um dos mais básicos – terem sido descobertas no Egito, entrelaçadas com a ajuda de agulhas de osso ou madeira. Já nessa altura eram os homens que tricotavam, usando o fio que as mulheres produziam manualmente com a roca de fiar.
Segundo Thiago afirma, “A marca ‘Homem na Agulha’ existe desde 2012 (são feitos objetos e itens de decoração, que vão de capas para abajur a pequenos animais de lã). As intervenções começaram em 2014. Existe um interesse masculino. Vários amigos dizem que querem aprender. O próximo passo é criar um grupo para ensinar essas pessoas. Um grupo só com homens. Se criar um grupo unissex vai ter cara que não aparece, que se envergonha. Se ficar só marmanjos as pessoas ficam mais confortáveis. A ideia é essa. Juntar 15 pessoas e fazer uma tarde no parque ou um happy hour. Sair, tomar um pouco de cerveja e ensinar a bordar.”
Isso me deixou feliz de um jeito um pouco mais exagerado do que deveria, ahahah
Quanta coisa bonita envolvida nesse post.
Que estranho Ananda, também me senti assim. Uma felicidade estranha hehehehe