Uma vez eu li um texto que dizia que Rugrats-Os Anjinhos era um ótimo desenho. A não ser para os pais, que tinham em suas próprias casas as versões em carne e osso daqueles personagens.
Um pai ou uma mãe que se senta com os filhos para assistir a A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas irá se sentir exatamente assim. Só que com adolescentes e pré-adolescentes. O longa dirigido por Michael Rianda e Jeff Rowe certamente seria diagnosticado com TDAH.
A premissa da animação que estreou no último dia 30 na Netflix depois de vários adiamentos e trocasa de nomes, a gente já viu inúmeras vezes: família disfuncional parte em viagem para se unir até que um problema surge e cada um irá mostrar seu valor. Sim, pode por nessa conta Os Incríveis, Pequena Miss Sunshine e o que mais você quiser. O problema: uma revolta de robôs inteligentes que promete dizimar a humanidade. Se você pensou em 2001, Wall-e e qualquer filme de robô assassino, acertou de novo.
A Família Mitchell… tem diversos problemas. E eles, infelizmente soterram qualquer crítica que o longa quisesse apresentar ao exagero do uso da tecnologia ou a passarmos tempo demais em frente às telas enquanto ignoramos as pessoas ao redor. Ou ainda: os pais que não compreendem os filhos porque os filhos não compreendem os pais. No meio da gritaria, da correria, dos memes (sim, a cada minuto a tela congela para criar um meme) e das piadas sem graça, qualquer lição ficou perdida.
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Sua protagonista, uma adolescente que acabou de entrar para a faculdade, fã de cinema e incompreendida, poderia ser uma heroína moderna. Mas tudo que ela quer é viralizar, porque hoje em dia é o que importa de verdade. Quem liga pra se unir à família?
Como dito, os pais estão com estes jovens dentro de casa há mais de um ano. Pobres destes pais que se propuserem a ver as crianças também na tela. E o que é ainda pior, o filme faz questão de pintar os pais da forma com que estes jovens os vêm: como seres das cavernas ignorantes que não conseguem sequer digitar um endereço na internet. Parabéns para a Netflix que perpetua o absurdo de que quem nasceu antes de 1990 é um ignorante digital.
É interessante perceber, inclusive, que qualquer originalidade do filme (como algumas referências a cinema como Madrugada dos Mortos, Brinquedo Assassino ou Mad Max) também se perde no meio da gritaria e da fórmula requentada. Em determinado momento a gente só quer tirar aquela barulheira da tela porque, afinal, já estamos sendo atacados por tanta informação involuntária o tempo todo (ou vendo estas crianças se comportarem exatamente daquela forma dentro das nossas casas), que escolher passar por mais isso se torna uma tortura irritante.
Se você está disposto a ver uma mistura torturante e sem alma de Os Incríveis com Wall-e, A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas é imperdível. Mas, se você tem qualquer pouco de amor próprio, é melhor passar longe mesmo.
