Steven Soderbergh é um diretor estranho. Assim como seus filmes, que passeiam tranquilamente entre vários gêneros, seus filmes também passeiam entre o bom e o ruim. De coisas muito ruins como Magic Mike, passando por outras medianas, como Onze Homens e um Segredo e Contágio a muito boas, como Erin Brokovich. Ou este novo Terapia de Risco.
O diretor anunciou recentemente que seu filme que neste momento causa furor em Cannes, Behind the Candelabra, será último de sua carreira, quanto a isso é esperar pra ver. Esperar pra ver também o filme que vem dividindo opiniões de críticos, que já o chamaram de ‘obra prima’ e de ‘gay demais’.
Por hora, nos cinemas brasileiros, Terapia de Risco está em cartaz, e mistura drama, policial e suspense num filme que começa desinteressante e de repente acorda e faz com que a gente se encolha na poltrona. Rooney Mara (de Os Homens Que Não Amavam as Mulheres, versão americana) é Emily, uma mulher que espera o marido sair da cadeia para continuar a vida. Preso por repassar informações confidenciais de ações da bolsa, Martin (o sempre péssimo Channing Tatum, de Magic Mike) ganha a liberdade para encontrar a esposa mergulhada numa depressão. Após se atirar com o carro contra a parede da garagem ela é internada e passa a ter acompanhamento médico do psiquiatra interpretado por Jude Law (de Sherlock Holmes e Anna Karenina). Depois de passar por vários antidepressivos ele receita uma nova droga, que promete milagres no tratamento da doença. Porém a droga causa alguns efeitos colaterais, como sonambulismo, e numa dessas crises Emily comete um crime.
O que vinha morno até aqui acorda o espectador quando o drama dá lugar a uma outra discussão: de quem é a culpa pelo crime? Da mulher que tomava o remédio? Do médico que receitou? Do fabricante da droga? Neste momento o drama que virou filme de investigação sofre uma reviravolta de cair o queixo e a questão não é mais DE QUEM é a culpa, mas SE HÁ culpa em si.
Não dá pra falar demais sem estragar as surpresas que vem em ritmo acelerado depois da primeira metade do filme. É preciso força para resistir ao seu início em banho-maria, mas uma vez que ele nos acorda, é impossível tirar os olhos da tela até que a gente descubra o que diabos aconteceu.
Catherina Zeta-Jones (de Chicago e Rock of Ages), sempre lindíssima e eficiente interpreta uma terapeuta anterior de Emily que irá ajudar o atual médico a investigar para tentar descobrir a verdade por trás do crime cometido. Pequenas discussões sobre a ética da indústria farmacêutica também permeiam o filme em pontos bem estratégicos, só pra deixar a pulga atrás da orelha, mas sem deixa-lo chato demais.
Daqueles filmes onde nada é exatamente o que parece ser, chega um ponto onde em nossa cabeça todos são suspeitos. Resista aos 30 ou 40 minutos iniciais, você não irá se arrepender.