Resenha do site – Virando a Página

the rewriteNos últimos anos diversos filmes têm tentado reviver um gênero que já foi cultuado no cinema: as comédias românticas. Sucessos de público principalmente na década de 90, as romcoms fizeram a alegria de muitos casais no cinema e hoje não são mais tão populares. Títulos como Deixa Rolar, Será Que? e Two Night Stand tentaram trazer um frescor jovial ao gênero e acabaram criando filmes fracos, sem graça e por vezes até irritantes e machistas. Será culpa de seus roteiros? De seus protagonistas (respectivamente Chris Evans, Daniel Radcliffe e Miles Teller), atores bons em outros gêneros mas que não conseguiram mostrar jeito pra coisa? Pode ser, mas principalmente, por um motivo em especial: estes filmes tentam inovar em um gênero que se estabeleceu justamente por não ser inovador.

Uma boa comédia romântica deve respeitar certas regras, não deve tentar ser engraçadinha, por exemplo. Deve ter um humor inteligente que não subestime seu público, ainda que ele saiba exatamente o que esperar na tela. Ao tentar inovar, estes filmes se tornam piadas de si mesmos. E pior, piadas sem graça. Mas então é impossível inovar nas comédias românticas? Claro que não! Filmes como (500) Dias Com Ela, Ela, Como Não Perder Esta Mulher e Ruby Sparks provam que sim, existe inovação. Por outro lado, longas como Amizade Colorida, A Delicadeza do Amor, A Verdade Nua e Crua, Cartas Para Julieta e Larry Crowne provam, ao mesmo tempo, que é possível fazer uma romcom de respeito justamente respeitando e repetindo as regras que fizeram do gênero um dos mais bacanas do cinema.

É justo, inclusive, comparar Larry CrowneVirando a Página. Ambos os longas trazem atores tarimbados no gênero em seu elenco; ambos falam de um homem sem rumo na vida por volta dos 40 que acaba por se envolver com uma mulher decidida e bem resolvida de sua idade. Mas se o primeiro tinha o peso de Tom Hanks e Julia Roberts em uma história que era quase uma crítica à economia atual americana, o segundo tem um trunfo tão bom quanto: Hugh Grant. Ator com a capacidade de rir de si mesmo como poucos, Grant já havia encarnado o quarentão que um dia foi famoso e hoje é um fracassado em longas como Um Grande Garoto Letra & Música (ambos comédias românticas) e aqui volta a este personagem na pele de Keith Michaels: um roteirista de Hollywood que no passado ganhou um Oscar por um filme e depois amargou fracasso após fracasso até acabar ensinando roteiro em uma universidade pública do interior do Estado de Nova York. Qualquer semelhança é mera coincidência, mas é justo dizer que os dias de glória de Grant já se foram.

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Sim, o roteiro é bacana, as piadas são inteligentes e rápidas e os coadjuvantes são excelentes. Gente como J.K. Simmons (vencedor do Oscar por Whiplash) e Allison Janney (que já demonstrou seu humor afiado em 10 Coisas Que Eu Odeio em Você e hoje estrela a série Mom) traz o pedigree necessário para o time que acompanha o protagonista. E, claro, o par romântico: poucas atrizes têm o brilho, a simpatia e o talento de Marisa Tomei. Vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante em 93 por Meu Primo Vinny, Tomei é daquelas atrizes que dificilmente emplaca um enorme sucesso de público, mas sua presença basta para iluminar a tela. Recheado de referências cinematográficas (de Dirty Dancing a Akira Kurozawa), o filme consegue ter ótimas tiradas como Grant sugerindo As Patricinhas de Beverly Hills para uma professora aficionada por Jane Austen como sendo uma adaptação do romance Emma ou um aluno fã de Star Wars sugerindo o tempo todo “um vilão mascarado que só conseguimos ouvir sua respiração” como recurso para os mais diferentes gêneros.

Se há algo em que as comédias românticas de hoje em dia se diferenciam das de décadas atrás é na força de suas protagonistas femininas. Seguindo a tendência atual do cinema, as mocinhas hoje não são meros pares de pernas suspirantes sentadas esperando seu príncipe encantado. São, quase sempre, mulheres decididas. Em alguns casos, com um passado. Como em A Proposta, onde a personagem de Sandra Bullock é, além de mais velha, chefe de seu par romântico vivido por Ryan Reynolds. Ou como aqui, onde a personagem de Tomei carrega consigo duas filhas sem que haja sequer menção a um pai. O mundo mudou, evoluiu. E o cinema também.

No fim das contas, Virando a Página é, como tantas outras comédias românticas, um filme sobre se entender com seu passado, sobre superar as dificuldades, sobre enxergar aquilo que sempre esteve à sua frente. É um daqueles filmes que nunca vai mudar o mundo ou fazer ninguém questionar a própria vida. Serve apenas para nos deixar mais leves, nos fazer acreditar no amor e rir um pouco das tolices da vida. E soltar um suspiro ou outro também, por que não? Afinal, é pra isso que serve uma boa comédia romântica.

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