‘Luca’ e a conhecida história de mentir sobre quem você é para ser aceito

O plot é bastante comum, inclusive em filmes infantis: mentir para ser aceito e disfarçar quem você é. Vimos isso em Hotel Transilvânia (um filme todo sobre aceitação das diferenças), em Uma Nova Chance (com Jennifer Lopez mentindo em seu currículo para se reinventar) e na série Younger (com Sutton Foster mentindo a idade para conseguir um emprego). Vimos também em Gaiola das Loucas com o personagem de Nathan Lane fingindo que era uma mulher para se passar por hetero. Isso pra citar apenas alguns.

Aliás, o gay que se passa por hetero para ser aceito é frequente no cinema e na TV (pegue Longe do Paraíso e O Segredo de Brokeback Mountain como exemplos óbvios). E, hoje, percebemos como essa situação é triste.

Bom, Luca fala de dois garotos que precisam esconder quem realmente são para serem aceitos: eles na verdade são monstros marinhos, mas para poderem ficar entre os humanos terão que esconder sua verdadeira identidade.

Você já deve ter percebido o que eu quero dizer aqui né? E não sou só eu.

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Diversos críticos americanos após assistir às cabines de imprensa da nova animação da Disney-Pixar fizeram a relação e pegaram a metáfora: será que Luca fala sobre esconder quem você realmente é para ser aceito? Ou em outras palavras: será que há um subtexto gay na história?

Para um estúdio que acha muito fácil colocar a bandeira do arco-íris na foto de perfil mas onde o máximo da diversidade em um filme é colocar dois personagens coadjuvantes masculinos dançando juntos em uma cena, parece improvável que Luca tenha de fato um subtexto gay. Afinal a Disney não pode correr o risco de desagradar a audiência “só” pra agradar à população LGBT que quer se ver representada.

Mas vamos analisar um pouquinho:

Luca é um monstro marinho que, ao conhecer Alberto, descobre neste último um garoto de espírito livre disposto a aventuras. Luca e Alberto fogem para a vila de Portorosso, onde se disfarçam de humanos e lá conhecem Giulia.

Num primeiro olhar, Luca é apenas mais uma das histórias incríveis que a Pixar sabe contar muito bem, cheia de mensagens sobre companheirismo, amizade e… aceitação.

Mas, de acordo com o Collider, Luca se torna especial quando olhamos a relação entre Luca e Alberto. Esta relação pode ser, claro, apenas o companheirismo entre dois excluídos da sociedade. Mas a leitura pode ir além e podemos entender que o filme fala de qualquer um que precise se disfarçar pra não ser excluído. Percebeu a relação? Quantos de nós LGBT já não fingimos ser algo que não somos para sermos aceitos? Por que a Pixar colocou dois meninos como protagonistas? Por que não um menino e uma menina? Será que não foi intencional? Será que a semelhança com Me Chame Pelo Seu Nome vai além dos memes?

Me lembro que quando assisti Hotel Transilvânia uma frase dita pelo vampiro me marcou bastante. Algo como “Se eles descobrirem quem somos, irão nos aceitar?”. E isso pra mim soou muito como uma metáfora para a comunidade LGBT. Em determinado momento, Alberto faz uma pergunta semelhante a Luca: “E o que vai acontecer quando ela descobrir?”.

Luca é uma história sobre duas pessoas tentando encontrar seu lugar no mundo, em um mundo que os rejeita. E como a gente sempre vê, você pode até conseguir se esconder por um tempo, mas em algum momento, para se sentir feliz e completo, vai precisar mostrar quem você realmente é.

Para o crítico do Collider, definitivamente existe um tom afetivo na relação de Alberto e Luca, que vai além da amizade, como já vimos entre Woody e Buzz ou Mike e Sully.

Para quem, como nós, já se sentiu diferente, já precisou fingir ser quem não é, Luca definitivamente pode ser um aceno à diversidade e à aceitação. Mas há de chegar o dia em que não ficaremos só no subplot.

Luca estreia nesta sexta no Disney+.

Veja o trailer abaixo:

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