
Se quando você pensa em “filme de quadrinhos”, você pensa em coisas como Vingadores ou Batman vs Superman, você pode não gostar muito de Coringa, que estreia hoje no Brasil. O longa do arqui-inimigo do Batman, neste sentido, está muito mais pra Estrada Para Perdição que para Liga da Justiça.
Esqueça o ritmo frenético, o rock, o colorido, os superpoderes. Coringa é um filme lento, sujo, intimista. Se fosse para definirmos o longa do diretor Todd Phillips em uma palavra, seria “desconfortável”.
É impossível não se sentir incomodado enquanto vemos Arthur Fleck descender em sua espiral de loucura em uma Gotham suja, caótica, fétida. De fato, enlouquecer parece o único caminho possível para aqueles personagens, e Fleck vai levar isso ao extremo até se tornar o grande “palhaço do crime”.
Coringa é um filme de origem. Assim como já vimos tantas vezes nos filmes de herói. Mas ao invés de mostrar o homem que supera a adversidade para se tornar o salvador, testemunhamos a história de outro homem, um que sucumbe às suas adversidades para se tornar o vilão. Mais ainda: um símbolo. Bruce e Thomas Wayne servem apenas de pano de fundo para a construção de um dos maiores personagens da cultura pop em uma história original assinada pelo próprio diretor.
Quem ficou estarrecido pela performance de Heath Ledger em O Cavaleiro das Trevas vai se surpreender e novamente se maravilhar com a atuação de Joaquim Phoenix. Porém, apesar do mesmo nome, os Coringas dos dois atores são personagens completamente distintos. Quando conhecemos o Coringa de Ledger, já conhecemos um homem louco que “apenas quer ver o mundo pegar fogo”. Já o Coringa de Phoenix tenta encontrar seu caminho no caos, até ser dominado pela sua loucura. É quase como se este fosse um prequel do personagem de Ledger.
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Coringa não é um filme de superação. Não é um filme bonito. Não é um filme fácil de ser visto. Pelo contrário: é uma história de domínio da loucura, feia, suja e desconfortável. A história de um homem que, não encontrando seu lugar na sociedade, resolve moldá-la de acordo com sua anormalidade. Mas não se engane: é um dos melhores filmes do ano.